A nossa vida no Campo Magazine

Qual é o papel do solo?

O solo é um sistema complexo e tem um papel importantíssimo no equilíbrio da vida no nosso Planeta.

O bem estar humano depende de uma série de “serviços vitais” fornecidos pelo solo, que passam pela produção de alimentos, purificação da água da chuva, produção de oxigénio, decomposição de matéria orgânica e sua transformação em minerais e nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas. Depois, há a absorção do carbono da atmosfera e sua fixação no solo, no clima, nas estações do ano. O ciclo anual da libertação de carbono, mantém no solo todo o carbono que é libertado no outono, e é responsável pelo fornecimento de matérias primas que são essenciais à nossa vida quotidiana. O solo é, biologicamente, a parte mais diversificada da Terra.

Mas temos um problema

O solo tem vindo a ser reduzido a um simples suporte físico-químico para cultivo, e é tratado agressivamente, sem se considerar a sua complexidade e o seu ciclo de vida, ou pensar sobre os riscos para a biodiversidade dos organismos que nele vivem. Até hoje, nada em concreto foi feito para enfrentar a perda de fertilidade causada pelo enorme aumento da produção agrícola e animal, bem como de outras indústrias.

É preocupante, porque a tendência é piorar. E por que razão?

Já somos 7,2 mil milhões de pessoas, um número que tende a aumentar, e traduzirá a necessidade de mais comida e uma maior demanda pelo consumo de carne… Isto vai provocar uma pressão na indústria agroalimentar para se produzir cada vez mais quantidade na mesma terra, o que implica, obviamente, o recurso a uma agricultura mais e mais intensiva, com adubos de síntese, pesticidas e herbicidas, com sementes de alto rendimento e monoculturas, o que irá causar desgaste e diminuição da fertilidade e riqueza do solo e, consequentemente, a produção de alimentos de baixa qualidade.

Senão, vejamos. As plantas para se desenvolverem e terem as características nutricionais que nos fazem bem, compreendem mais de 20 elementos químicos ( por exemplo os macro: oxigénio, carbono, hidrogénio, nitrogénio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio, magnésio; e os micro: ferro, cobre, manganésio, sódio, zinco, cobalto, alumínio, selénio,…) na sua composição.

Os adubos de síntese, utilizados na agricultura convencional, contêm apenas 3 – azoto, potássio e fósforo. Dá para imaginar as deficiências que isto cria no solo, bem como nos alimentos que daí derivam e, se a isto adicionarmos os herbicidas e pesticidas…

Com o percurso que está a ser traçado, caminhamos para uma situação em que o homem assume fazer o papel do solo, fornecendo artificialmente tudo o que é necessário para que ele produza, ou seja, o papel do solo fica reduzido a substrato para manter as sementes.

O que quer isto dizer para o solo?

1. Que já não vai cumprir o seu papel vital;
2. Que não vai ser alimentado;
3. Que não vai ter a oportunidade para se equilibrar e regenerar por si próprio;
4. Que não vai conseguir fixar o carbono;
5. Que deixa de conseguir cumprir o seu papel na purificação da água;
6. Que afinal o solo vai estar fora da equação!

Mas perguntarão os mais cépticos: e isto importa?

Afinal, há que alimentar o mundo!
Considerando que há mais biomassa no subsolo que acima dele, se matamos o solo, vamos matar também um ecossistema, o que equivale a fazer desaparecer todas as coisas vivas que estão por cima do solo. O risco de um acontecimento destes soa-nos bastante assustador e nem conseguimos imaginar as consequências que terá! Por isso, é urgente mudar hábitos e práticas.

No fundo, é importante começarmos a pensar que vivemos num sistema em que tudo está interligado. Mal comparado, é como se a terra fosse um condomínio de apartamentos, em que, se o vizinho do 9º andar deixar a torneira aberta, mais tarde ou mais cedo, os efeitos vão-se sentir no rés-do-chão…

Não podemos estar continuamente a adiar uma factura que vamos ter de pagar.

Temos que tomar decisões e tomá-las já, pois todas as escolhas que fazemos no dia-a- dia vão, de alguma forma, ter impacto no solo e na água, seja pelos alimentos que escolhemos, pela roupa que vestimos, pelos produtos que usamos, tudo, tudo está directamente ligado ao solo e à água.

Então o que podemos fazer para manter os nossos solos férteis e produtivos para as próximas gerações?

É essencial educar o consumidor, dar-lhe informação, quanto mais informado o consumidor estiver, mais escolhas conscientes irá fazer.

A educação tem que começar cedo. Se vivemos desligados da terra como lhe podemos reconhecer o valor? Desde o ensino básico que se deveria promover o contacto das crianças com a terra, mostrar-lhes que se semearmos uma semente e cuidarmos dela, nascerá uma bela planta. A agricultura devia juntar-se ao estudo do meio ambiente e geografia, mas não só o estudo, também a prática.

Incentivar à preferência pela comida local e da estação. O consumidor tem de compreender a importância do que é comer o que é de origem do país e região, para manter a biodiversidade e maior variedade de culturas, e por ser mais sustentável. Não precisamos de comer fruta que viajou 3000km para chegar às nossas mãos.

Criar a preocupação no consumidor de saber como foi feita e o que contém a comida que está a comer. Ser exigente, obriga a indústria agroalimentar a mudar a sua atitude. Há que mostrar o impacto que os hábitos alimentares têm no meio ambiente. Todos temos que entender que agricultura, alimentação, nutrição e saúde representam um todo. Cuidar do que fazemos crescer, como cresce, o que contém e como comemos, tem uma influência inevitável na saúde pública e na saúde do Planeta.

Dizer não a sementes geneticamente modificadas e obrigar a indústria a identificar, de forma visível, se recorre ou não a OGM.

Como agricultores, temos que criar sistemas de produção que estejam em harmonia com o meio ambiente, e aderir aos métodos agrícolas que não causem danos, reduzindo o uso de adubos ou fertilizantes de síntese, optando por policulturas, rotação de culturas, adubos verdes, preferindo variedades locais e, sobretudo, apostando na verdadeira inovação, aquela em que usamos a nossa inteligência para modificar a natureza e poder utilizar os seus produtos sem a prejudicar e empobrecer. Temos que usar a terra para o que realmente necessitamos, pois, na verdade, 1/3 da comida que é produzida não acaba nas nossas mesas, é desperdiçada, e esse desperdício consumiu recursos importantes, como a água e o solo.

Hoje, os agricultores que praticam uma agricultura sustentável são uma minoria. No entanto, o facto de um número crescente de pessoas decidir escolher o que produz, mostra que começa a haver essa preocupação e consciência.

Se queremos manter os solos férteis, boa água e a natureza viva, temos que ter uma atitude colectiva de mudança.
Só nós, como consumidores, a conseguiremos provocar, pois a indústria só irá mudar se os consumidores o exigirem.

Assinem e façam parte deste movimento para salvar os solos:

P
www.people4soil.eu

Este ano fui convidada para participar na Terra Sã a Feira de Agricultura Biológica organizada pela Agrobio.

— Veja a primeira parte do artigo —

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